sexta-feira, 14 de maio de 2021

Que tal uma feijoada diferente?



HISTÓRIA

Em todos os espaços, o Pavio Curto quer trazer questionamentos e reflexões e na cozinha é também um lugar perfeito para isso.  Essa receita vem para falarmos sobre história, cultura e religiosidade.

Aquela história que você ouviu na escola que feijoada era comida dos negros escravizados não é verdadeira. Historiadores hoje trazem essas questões muito mais claras para refletirmos. No entanto, os escravizados eram alimentados com algo mais parecido com uma “ração”.  Sobre o verdadeiro cardápio os relatos históricos identificam a presença do famoso angu de fubá (sopa rala de água e fubá). Compunham também a dieta muita farinha de mandioca e feijão com sal e gordura animal. As carnes eram todas usadas na casa-grande e não sobravam para os escravizados.

O feijão, ingrediente principal nessa receita, existia em nosso território. Várias espécies já eram cultivadas pelos indígenas que aqui viviam, bem como mandioca e milho.

De acordo com o autor do livro A formação da culinária brasileira, Carlos Alberto Dória, a ideia da feijoada como prato nacional seria consequência das ações dos modernistas para construir uma identidade nacional brasileira. 

A partir desses esforços, a comida, já popularizada, se tornou um dos signos da brasilidade. Isso é importante para termos a noção de como os escravizados eram realmente tratados e que a feijoada vira essa refeição que conhecemos quando a elite começa a incrementá-la e deixá-la mais parecida com os seus cozidos europeus.

Hoje a feijoada é nossa. Isso é certo e traz muita história, seja no Rio Grande do Sul, servida como um prato de inverno, ou no Rio de Janeiro, comida em pleno verão em um boteco na sexta feira, até o nordeste com suas versões variadas de feijão em um domingo na casa da avó.

E como muito nossa, está presente em representações religiosas do povo brasileiro. Na umbanda, no 13 de maio é comemorado o dia do preto velho, e a feijoada é a comida oferecida como um rito, onde se unem o simbolismo da data e a comida de referência da cultura negra.

A versão dessa receita do Pavio é vegana para contribuir com nossa preocupação com o meio ambiente e apoio às causas animais.